A NOSSA ÁGUA DE CADA DIA

 

    Na década de 70 houve em Uberaba um vereador – posteriormente candidato a prefeito – chamado João de Souza.
 

    Para a época, já apresentava propostas futuristas em seu programa de governo, e suas propostas tornaram-se alvo de críticas e chacotas

    por parte do eleitorado e prato cheio para os políticos adversários de ocasião. Em seu programa de governo, destacava a preocupação do

    abastecimento de água para Uberaba, insuficiente para um futuro próximo por causa do aumento populacional e do crescimento

    econômico gerado pela instalação de novas empresas no município.

    No seu projeto divulgado pelos veículos de comunicação, o rio grande era a opção mais viável no que se refere o custo-benefício, tanto

    pela quantidade de água oferecida quanto por estar mais próximo do centro de consumo. Outro fator de destaque era a sua preocupação

    com o meio ambiente, isto é, com a redução ao máximo do impacto ambiental na transposição desta água, de forma a preservar as

    florestas nativas.

    Hoje se pode avaliar como sua proposta de governo para Uberaba estava muito além das avaliações, futurista ou uma premonição da

    catástrofe desencadeada duas vezes seguidas – numa demonstração da vulnerabilidade a que está exposta a população, e aí serve para

    todas as cidades, avaliada pela falta de visão holística de governantes, que ainda não descobriram que projetos de infra-estrutura básica

    social devem ser prioridade em nossos dias, a fim de evitar providências em afogadilho e paliativas, que geram altos custos dado o

    desespero de um povo quando a água não jorra da torneira. Uberlândia, também, já passou por isso e, graças ao abastecimento pelo Bom

    Jardim, as conseqüências foram menos desastrosas.

    É importante registrar alguns fatos que desencadearam a falta d água de Uberaba. Primeiro, o não monitoramento de projetos de irrigação

    na bacia do Rio Uberabinha sem as devidas outorgas, o que reduz o oferecimento de água à população; segundo, o acidente ferroviário –

    há poucos dias – com produtos químicos; só que, dessa vez, as conseqüências foram mais abrangentes: no aspecto social, econômico e

    psicológico. Escolas com aulas paralisadas, hospitais sem atendimento, empresas com a produção comprometida, desagregação como ser

    humano e o nervosismo das pessoas estampadas em seus rostos. O que é presenciado em Uberaba são pessoas de diversas faixas etárias e

    diferentes posições sociais vagando pelas ruas à procura de caminhões-pipa que possam amenizar a sede.

    Um alerta é sempre bem-vindo. As prefeituras devem fazer o levantamento sistemático dos poços de água já perfurados e os que venham

    a ser perfurados, a fim de ter em mãos uma posição exata do potencial hídrico explorado, haja vista que apenas os poços outorgados são

    de conhecimento do Instituto Mineiro de Gestão das Águas – IGAM, e desenvolver um trabalho de conscientização de que não há

    proprietários de água, e sim usuários da água, e que, num primeiro momento, essa água possa a vir ser requisitada.

    É preciso que o fato de hoje seja o exemplo de amanhã, ou seja, é preciso entender a importância da água para a sobrevivência humana e

    ainda garantir que as gerações futuras possam gozar desse bem com os mesmos direitos que são reivindicados hoje.


Wanderley Campos de Oliveira
Economista e Consultor Ambiental
Wco.eco@terra.com.br