O PAPEL ECONÔMICO DA ÁGUA NO CONTEXTO POLÍTICO DAS NAÇÕES

 

    1.Em qual segmento a empresa Hidropura Ambiental Atua?
    A Hidropura Ambiental tem como objetivo social à prestação de serviços na área de gestão ambiental e controle de qualidade da água, bem

    como o comércio de instrumentações utilizados na potabilidade da água.

    2. Qual é a área de cobertura da empresa?
    A área de cobertura da Hidropura Ambiental é o Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba e tem como principal foco comercial a cidade de

    Uberlândia.

    3. Qual a sua especialidade?

    a) Graduação em Ciências Econômicas e Ciências Contábeis pela Universidade Federal de Uberlândia.
    b) Pós-Graduação em Gestão Ambiental pela Uniminas.

    4. Qual a função primordial de um Gestor Ambiental?
    A função do Gestor Ambiental é adequada em conformidade com o segmento produtivo, a natureza de suas atividades e as condições que

    opera. Dessa forma, deverá assegurar que os requisitos do sistema de gestão ambiental sejam estabelecidos, implementados e mantidos

    através do trabalho contínuo em direção a qualidade total das organizações com adoção de ações, como: a política ambiental,

    planejamento, implementação de operação, verificação e ação corretiva e análise critica pela administração.

    Estes procedimentos levam a aumentar a eco-eficiência na utilização de recursos não renováveis, matérias primas, energias, água e uso do

    solo e do ar.

    5. Como a Gestão Ambiental pode contribuir na preservação da escassez de água?
    Neste século, a água se tornará o recurso natural mais importante e o seu custo, para a maioria das indústrias, será um componente muito

    importante em relação aos custos de produção. Os preços da água estão em contínuo crescimento e a minimização do seu custo será uma

    questão prioritária para as indústrias em todo mundo.

    A grande importância deste recurso natural escasso foi apresentada de forma objetiva e clara, através da Carta Européia da Água,

    promulgada pelo Parlamento da Europa, em 06/05/88, que destaca:

    -Não há vida sem água. Usar a água de maneira imprudente significa abusar do patrimônio natural. A água não tem fronteira. O Código das

    águas de 1934 no Brasil é considerado uma das mais antigas normas de gerenciamento de água no mundo. Portanto, o gerenciamento da

    água nos diversos segmentos produtivos influe positivamente na gestão deste recurso natural. Isso porque, todos nós temos parcela de

    responsabilidade para com as gerações futuras.

    6. Na condição de gestor quais as perspectivas para o negócio – água – nos próximos 20 anos? Em outras palavras para

    onde estamos caminhando? (tendências e probabilidades, vantagens e desvantagens do negócio).

    Os antigos (Empédocles de Agrigento, c. 495/490-435 a.C) diziam haver quatro raízes: a terra, o ar, a água e o fogo. Formavam todas as

    coisas. Aristóteles consagraria esta formulação como verdade cientifica por dois mil anos. Tales de Mileto (c.625/4-558 a.C) já afirmara: da

    água tudo se forma.

    Quando a raça humana surgiu na África, há cerca de 2 milhões de anos, seu impacto sobre o continente, onde os animais proliferavam, foi

    pequeno Gradualmente o homem foi aprimorando sua capacidade de aprender. Seu cérebro aumentou de tamanho à medida que ele

    desenvolvia as ferramentas e a agricultura.

    Hoje o Homo sapiens é uma das espécies mais difundidas na terra, com 6,2 bilhões de indivíduos, e sua população cresce cerca de 80

    milhões a cada ano. Cerca de 40% da superfície do planeta já utilizada para plantações e pastagens ou esta pavimentada.

    Isto tudo provoca mudanças na atmosfera, no solo e nos oceanos. Nenhum lugar do globo permanece inalterado. População, consumo e

    tecnologia são fortes fatores que afetam hoje o planeta. Um sinal de esperança: a taxa de fertilidade caiu nos paises em desenvolvimento

    (de cerca de seis nascimentos por mulheres na década de 60 para três nos dias de hoje). A queda se deve a maior escolaridade, menor

    mortalidade infantil e mais acesso aos anticoncepcionais. Por isso a população mundial pode chegar a apenas 9 bilhões em 2050, em vez dos

    10 bilhões previstos poucos anos atrás. Ainda assim a população dos 48 países mais pobres deve triplicar em 50 anos. E metade do mundo

    em desenvolvimento vive com menos de dois dólares por dia.

    A questão da economia ambiental não pode ser tratada isoladamente, porque não há como falar de água sem envolver outros setores

    ambientais, que estão interligados, principalmente as florestas, como a preservação, a exploração sustentável, o manejo florestal, o

    envolvimento do ecoturismo, o agronegócio, o empresário de hotéis fazendas, áreas de preservação, setores de produção urbanos, enfim,

    á produção da água está ligada a estes e dezenas de outros fatores.

    Percebe-se que a exploração econômica é viável e rentável, desde que sejam obedecidos diversos critérios de preservação para maior

    produção com sustentabilidade.


    Contexto - Brasil e mundo


    12. Sabemos que num futuro próximo faltará água potável. Na sua opinião a água será o produto mais valioso do mundo?

    Valerá mais que petróleo e ouro?

    A água doce é um recurso renovável pela própria natureza. O tal de ciclo hidrológico. Renovável, sim; porém, limitado. A oferta de água já

    foi atropelada pela demanda em quase todo o mundo.

    O consumo e a poluição fazem dela um recurso natural cada vez mais valioso, porque cada vez mais insuficiente.

    Em dezenas de nações da África, do Oriente Médio e da Ásia Central, a água potável tornou-se uma riqueza mais cobiçada que o petróleo.

    Em abril de 1981, o prefeito de Bagdá no Iraque, Mohamed Dib, em entrevista com Joelmir Beting,disse: o barril de petróleo custa pra nós

    US$ 2,50 e vale US$ 35. Importando água mineral da Bulgária por US$ 110 o barril (de 169 litros), ou seja, procuramos um recurso que nos

    custa UR$ 110 e descobrimos um recurso que contabilizamos por UR$ 22 na troca de água com a Bulgária. Um barril de água vale cinco

    barris de petróleo. E a cotação do ouro hoje é de UR$ 35 o grama.

    13. Se hoje um galão de água potável – 20 litros – custa em média R$ 4,00, quanto valerá daqui a 30 anos?

    Se analisarmos que a água mineral em recipiente de 20 litros custa pra nós U$ dois e que 30.000 litros de água tratada fornecida pelo

    Dmae custa U$ 9, teoricamente, no futuro, nesta analise concluiremos, que gastaríamos UR$ 6.000 para pagarmos a fatura de água por

    mês. Estes valores por si só já respondem a pergunta.

    14. Atualmente 70% da água doce é utilizada pela agricultura e 20% é para uso industrial. Como as empresas estão se

    preparando para quando faltar a água doce?

    Não há informação ou planejamento do “quando faltar água doce” porque a água não poderá ser substituída. O que as empresas hoje

    estão procurando fazer, é implantar a nova consciência ambiental e ecológica, onde os gastos com proteção ambiental começaram a ser

    vistos pelas empresas líderes, não primordialmente como custos, mas como investimentos no futuro e com vantagem competitiva.

    A atitude passou de defensiva e reativa para ativa e criativa.

    Ao adotar sistemas diferenciados no gerenciamento da água, destacamos a implantação do reuso direto planejado, com estações de

    tratamento de efluentes, logo perceberam um ganho econômico, com redução de custos e o reconhecimento público de uma empresa

    não poluidora dos recursos hídricos.

    A adoção destas e outras medidas resultará em maior economicidade de água, que reverterá para outros setores de consumo.

    Já na agricultura, descobriu-se que com os processos tecnológicos de irrigação mais eficaz, evitando o “banho na planta” e horários em que

    o processo de evaporação é menor, resultou num aumento de produtividade em menor área plantada.

    Este fator levou a uma redução considerável no desmatamento, uso racional do solo, e principalmente a conservação de áreas de

    preservação permanente, onde são chamados, nascedouros de água.

    Um fato eficaz está sendo a criação dos Comitês de Bacia, que irão gerenciar os recursos hídricos, determinando quanto se vai cobrar pela

    água utilizada nos processos de irrigação. (Águas do Brasil, ano 2 nº 5 – 2001)

    16. O senhor acredita que a água será um motivo de guerra entre os povos?
    Segundo o Jornal Economia, para marcar a passagem do Dia Mundial da Água, a ONU realizou em Paris, uma conferência internacional com a

    participação de 114 países. No encerramento, o presidente da França, na época, Jacques Chirac, lembrou que em dezenas de nações da

    África, do Oriente Médio e da Ásia Central, a água potável tornou-se uma riqueza mais cobiçada que o petróleo. A tal ponto, que conflitos

    pela água colocam, não é de hoje, mais de 60 países literalmente em pé de guerra. Porém, esta sombria previsão é refutada pelo geógrafo

    estadunidense Aaron Wolf, que analisa os incidentes relacionados à água, registrados na história.

    17. No Brasil temos 13,7% de toda água doce do planeta. O senhor acredita que esse fato despertará a cobiça e os

    interesses – exploração e dominação dos paises do primeiro mundo?

    Nas premonições de alguns estudiosos diziam que os navios de petróleo se cruzariam com os navios agueiros, dado a escassez de água

    potável no mundo. Este fato já ocorre em diversos países do oriente médio e do Golfo Pérsico. O Brasil já é um fornecedor de água potável

    para os EEUU através da estação de tratamento de água de Manaus-AM.

    De acordo com o percentual favorável de volume de água no Brasil, esta riqueza será explorada economicamente e terá rubrica nas

    exportações, favorável nas contas de balanço de pagamentos.

    Como alvo de denominação estrangeira acredito estar descartada esta hipótese pelas dimensões territoriais e a nossa história de paz no

    contexto global. Mas, já há registro de navios piratas atuando na costa do Brasil, mais exatamente na foz do Rio Amazonas,

    contrabandeando água para o oriente médio.

    18. Como poderíamos protelar ou prevenir contra os problemas que enfrentaremos no futuro relacionados à água potável?

    O que podemos fazer hoje para evitar o problema, sendo que segundo os estudiosos esses será um fato notório e irrevogável e que o ser

    humano não pode sobreviver sem a água?

    A ciência tem demonstrado que a vida se originou da água e que ela constitui a matéria predominante nos organismos vivos. É impossível

    imaginar um tipo de vida em sociedade que dispense o uso da água. Em média o homem tem aproximadamente 47 litros de água em seu

    corpo e diariamente tem que repor 2 litros e meio, caso isto não aconteça pode-se morrer de sede em dois dias.

    Conscientização e Ação. Se continuarmos tratando a natureza de maneira irresponsável, o futuro nos reservará um mundo devastado e sem

    recursos. Podemos ter um bom futuro, em paz com a natureza, desde que encontremos o equilíbrio entre as necessidades humanas e a

    capacidade de recuperação ambiental (auto-sustentação). Não vale a pena quebrar para depois consertar, poluir para depois limpar.

    O grande contraste social e econômico distancia o homem da condição de cidadão e do reconhecimento ecológico. Um caminho

    importante é a educação: para a formação da consciência ecológica, para a vida em harmonia com a natureza e para a convivência solidária

    entre as pessoas.

    Na prática podemos fazer muitas coisas, como economizar água tratada, respeitar o ciclo da água, usar a água limpa com economia, cobrar

    dos governantes a criação e cumprimento de leis que protejam a natureza, dentre outras.

    Conscientizar a população para as questões ecológicas é importante para a conquista de um futuro com água potável e com saúde para

    toda a humanidade.

    19. Na sua opinião as águas subterrâneas (aqüíferos) podem salvar abastecimento de água no Brasil. Como? Por quanto

    tempo?
    Quando pensamos em desabastecimento de água, sempre vem a tona a exploração de água subterrânea. No nosso caso é importante

    avaliar o significado e importância do aqüífero guarani. No Workshop Aqüífero Guarani – Potencialidades para o Estado de Minas Gerais –

    Carta de Uberlândia realizado em 22 de novembro de 2001, foram abordados temas que convergiram para o estabelecimento de 14

    diretrizes para a gestão integrada dos recursos do Sistema Aqüífero Guarani e os demais aqüíferos a eles associados (Bauru e Serra Geral)

    em Minas Gerais.

    Destas diretrizes, uma mereceu destaque: Incluir nos “Planos Diretores” municipais programas e políticas que promovam a conservação das

    águas. Este tópico envolve principalmente cumprimentos de regulamentações junto aos Órgãos gestores de recursos hídricos, de âmbito

    federal, estadual e municipal.

    Fiscalização na autorização de perfuração de poços tubulares, outorgas de uso da água para os já existentes e, principalmente, o

    monitoramento e capacidade de produção dos recursos hídricos no caso de precisar desta água para atender a uma demanda ocasionada

    por fatores adversos.



Wanderley Campos de Oliveira
Economista e Consultor Ambiental

Entrevista concedida a Cláudia Zardo, aluna de Jornalismo da UNITRI – Universidade do Triângulo.